sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Lição 3

1. Vídeo Desmatamento na Amazônia - Jornal Nacional

2. Ecologia: Uma Perspectiva Cristã-Reformada

A questão ecológica, uma preocupação sempre presente na agenda da humanidade, ganhou recentemente mais destaque com a publicação do relatório Stern sobre os efeitos econômicos do aquecimento global dentro de algumas décadas. Mais uma vez somos forçados a encarar as consequências da depredação gradual e cada vez mais intensa que temos feitos dos recursos naturais da nossa casa, nosso planeta.

Temos confiança de que usando a capacidade dada por Deus a humanidade será capaz de divisar soluções para os graves problemas ecológicos criados. O ponto de que desejo ocupar-me agora é a contribuição do Cristianismo para a formação de uma consciência ecológica, particularmente dentro da Universidade. Permitam-me lembrar o que temos sempre repetido aqui, nas palavras de Abraham Kuyper, estadista e cientista holandês: “A proposta da fé reformada não é criar uma forma de igreja diferente, mas uma forma inteiramente diferente para a vida humana, para suprir a sociedade humana com um método diferente de existência e povoar o mundo do coração humano com ideais e concepções diferentes”.

O que a religião, especificamente o Cristianismo, tem a ver com ecologia, meio-ambiente? Vou destacar apenas duas coisas:

1) O Cristianismo reformado tem sido apontado como o responsável pela crise ecológica do nosso planeta. Lynn White Jr., escreveu um artigo em 1967, “As raízes históricas da nossa crise ecológica”, no qual coloca a responsabilidade da exaustão dos recursos naturais nas portas do Cristianismo evangélico e reformado. Segundo ele, foi a visão de mundo propalada pelo Cristianismo pós Iluminista na Europa que liberou o homem dos últimos escrúpulos com relação ao meio-ambiente. Segundo Lynn, a crença de que o mundo foi criado por Deus para o homem, e que o homem é a coroa da criação, acabou por fornecer a ideologia necessária para o surgimento da tecnologia e com ela, a exploração indiscriminada e irracional da natureza. A isso respondemos que o mesmo Cristianismo ensina que o homem é responsável diante de Deus pelo uso racional e correto do mundo e da criação, pois é o mordomo de Deus dos bens criados por ele. Mas numa coisa Lynn está correto: ele viu claramente a relação entre ecologia e religião. Mais recentemente, mais e mais vozes, mesmo sem ser religiosas, se levantam para dizer que sem religião não poderá haver uma mudança de mentalidade nas pessoas em relação à natureza.

2) Acredito que a fé cristã-reformada, como cosmovisão, provê os fundamentos epistemológicos, morais, espirituais e éticos para que possamos lutar pelo meio ambiente e em prol do nosso planeta, fazendo ecologia de forma coerente e integral:


a) Primeiro, o fundamento da existência real do mundo. Ele existe – não é uma projeção de nossa mente. “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Assim começa a Bíblia, com essa declaração fundamental para a perspectiva cristã. O princípio básico da religião cristã é que há um Deus que existe por si mesmo, desde a eternidade, e que criou o mundo de maneira objetiva e concreta. A natureza, o mundo que nos cerca, é real. O mundo existe objetivamente, fora de nós. Não é uma extensão de nossa imaginação.

b) O segundo fundamento é que o mundo foi criado bom. “E Deus viu que era bom” é o veredito do Criador sobre a natureza. A Criação foi declarada boa não somente porque foi criada perfeita, mas porque era boa para o homem que foi feito para nela habitar. Isso difere da visão do dualismo oriental entre matéria e espírito, que equiparava a matéria à desordem. Nessa visão pagã, a matéria é má, é pecaminosa. Nem religiões dualistas e nem formas de Cristianismo que separam natureza e graça podem nos dar alguma esperança com relação a achar soluções para nossos problemas ambientais.

c) Um terceiro fundamento importante é que o mundo funciona de acordo com leis e princípios estabelecidos por Deus. A convicção fundamental da ciência é que o mundo funciona de acordo com leis e princípios regulares e constantes e, portanto, previsíveis. No mundo as coisas ocorrem de maneira confiável e regular. Essa base é dádiva da visão cristã de que o mundo foi criado por um único Deus, um Deus de ordem, de forma ordenada, coerente e unificada, e não por vários deuses ambíguos, contraditórios, incoerentes e caprichosos, a partir da matéria caótica, como acreditavam algumas religiões orientais. Foram cientistas com essas convicções acima, no todo ou em parte, que lançaram as bases da moderna ciência e da tecnologia, como os astrônomos Kepler e Galileu, os químicos Paracelso e Van Helmont, os físicos Newton e Boyle e os biólogos Ray, Lineu e Cuvier, para citar alguns. Somente dessa forma podemos entender o funcionamento do meio-ambiente, do mundo e seus recursos, perceber os desastres que estamos causando por violarmos essas leis e prever soluções.

d) Outro princípio igualmente importante é que o homem é distinto da natureza. De acordo com o Cristianismo evangélico, o homem foi criado por Deus e distinto da natureza, pois foi feito à imagem e semelhança de Deus. O homem foi dotado de inteligência, ao ser criado à imagem e semelhança de Deus e, portanto, pode interpretar as leis do mundo e prover os meios de preservá-lo. No panteísmo, o homem, a natureza e Deus fazem parte da mesma realidade, o que torna impossível ao homem transcender a natureza para poder analisá-la, dominá-la e ajudá-la. Deus colocou o homem no mundo como mordomo, gerente, da criação como um todo, e lhe deu alguns mandatos: cuidar da criação, de onde tiraria seu sustento, protegê-la e preservá-la, conhecê-la, estudá-la, para assim conhecer melhor a si mesmo e a Deus. O homem é o mordomo de Deus. Não é o soberano senhor, dono e déspota, mas responsável diante de Deus pelo emprego correto dos recursos naturais e pela preservação das demais espécies.

e) E por fim, vivemos num mundo afetado pelo pecado. De acordo com a Bíblia, quando o homem colocado no jardim se revoltou contra ele, Deus amaldiçoou a terra: “Maldita é a terra por tua causa”. E condenou o homem à morrer, a retornar ao pó de onde fora tirado. Um grande abismo se estabeleceu entre Deus e o homem, entre o homem e seus semelhantes, e entre o homem e a natureza. A crise que vivemos hoje se deve a estes abismos.

Separado de Deus, o homem perdeu a referência da sua existência e se tornou confuso, perdido, vazio, sem respostas.

Separado dos seus semelhantes, dedica-se a buscar seus próprios interesses, mesmo que à custa do próximo: daí surge a criminalidade, a opressão do próximo, a violência de todos os tipos.

Separado da natureza, o homem a explora, esgota, exaure, destrói, em nome de sua sobrevivência, em nome do poder, da supremacia da raça humana sobre as outras espécies.

Por esse motivo, a perspectiva cristã-reformada vê os problemas ambientais como fundamentalmente de origem histórica moral e espiritual. E vê que a solução passa pela transformação interior das pessoas, uma mudança de mentalidade com relação a Deus, ao próximo e à natureza. Em suma, é esse o apelo e o chamado do Evangelho.


Em conclusão, cremos existir uma relação indissolúvel, de natureza histórica e lógica, entre religião e ecologia. Quero sugerir hoje que o Cristianismo, fiel às suas raízes bíblicas, tem condições de oferecer uma visão de mundo que permite enfrentarmos de forma coerente e lógica as questões ecológicas de hoje.


Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Fonte: http://www.mackenzie.br/contribuicao_cristianismo.html


3. Conscientização ecológica e missão

A expressão “pós-modernidade” já se tornou bastante conhecida, popularizada que foi pela ampla divulgação feita por alguns meios de comunicação de massa. De maneira simples, pode-se afirmar que uma das principais características da pós-modernidade (e, estranhamente, talvez uma das mais ignoradas nas abordagens populares do tema) é a crítica à modernidade. Uma das marcas da modernidade é a industrialização intensa, resultado da crença tipicamente moderna no “mito do progresso”. Como herança, temos um meio ambiente degradado e violentado, poluído e corrompido. Triste e amarga herança. A modernidade é responsável por avanços científicos e tecnológicos impressionantes, mas é potencialmente capaz de destruir o planeta, nossa casa maior. O Senhor Deus nos colocou como mordomos, gerentes e corregentes, responsáveis por zelar e cuidar dessa casa (Gn 1.26-27). Esse texto é mais importante que se pensa para a formulação de um conceito integral de missão bíblica. Afinal, é o primeiro mandamento divino ao homem. A tradição teológica reformada a partir daí formula o conhecido conceito de mandato cultural.
A conscientização ecológica faz parte da missão que Deus concedeu ao seu povo. Cabe à igreja a tarefa de integrar em sua missão uma pedagogia ecológica, que ensine seus membros a serem responsáveis pela defesa da criação. Isso passa, entre outros aspectos, por uma questão que é a um só tempo simples e complexa, como o destino que se dá ao lixo. Rubem Alves, em artigo publicado há poucos anos na Folha de São Paulo, afirmou de maneira curiosa, simultaneamente divertida e séria, que “o lixo [que ele chama de “excremento do diabo”] está para o mundo como o pecado está para as almas”. Essa pedagogia ecológica precisa incluir outros elementos, como uma orientação anticonsumista. Sem embargo da lembrança de que a igreja deverá fazer soar alto e claro seu brado contra os ataques ao meio ambiente, sejam estes perpetrados por pessoas simples, por grandes indústrias ou pelo Estado. Afinal, a bandeira da luta pela defesa da criação deve estar em primeiro lugar nas mãos dos seguidores de Jesus. Observa-se uma estranha contradição: às vezes, os que afirmam crer que céus e terra existem porque foram criados por Deus (cf. o primeiro artigo do Credo Apostólico) são omissos quanto ao zelo em cuidar da natureza. Enquanto isso, algumas pessoas que declaram não crer em Deus ou pessoas que prestam culto a espíritos da natureza são mais responsáveis que alguns cristãos no empenho pela natureza. Pedras clamando?
A natureza, biblicamente falando, é muito importante: rios e montes se alegram com os atos do Senhor (Sl 98.7-9). A misericórdia de Deus alcança não apenas os violentos habitantes de Nínive, mas também os animais da cidade (Jn 4.11). A natureza aguarda com ansiedade o dia em que será redimida do cativeiro da corrupção (Rm 8.20-22). A esperança cristã aguarda a irrupção de novos céus e nova terra, onde habita a justiça (Is 65.17; 66.22; 2 Pe 3.13; Ap 21-22). À luz de conteúdo bíblico tão denso, nada mais natural que incluir a conscientização ecológica como integrante da missão, seja na reflexão teórica, seja na prática eclesial.

Carlos Caldas
Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/276/conscientizacao-ecologica-e-missao

4. O mandamento de cuidar da criação.
André Lima

Há muitas razões pelas quais devemos cuidar de tudo o que Deus criou. Algumas delas são lógicas e todos deveriam segui-las. Por exemplo:
·         deixar o limpo o lugar onde mora é condição mínima para viver bem;
·         não jogar lixo na casa do vizinho mostra que você tem educação e respeita o próximo;
·         colaborar para o bom uso da água é, pelo menos, coerente com quem não deseja ficar sem ela depois;
·         fazer parte de movimentos que deixam seu bairro e sua cidade melhor é uma questão de conforto, pois todo ser humano gosta de se sentir mais confortável.[r1] 
No entanto, a despeito de todas essas recomendações se estenderem aos cristãos, há razões bíblicas que, agregadas a essa lista, deixarão mais densa a responsabilidade dos que são discípulos do Senhor quanto ao cuidado e a manutenção do que Deus criou.
Vejamos algumas dessas recomendações bíblicas que você deve levar em conta.

1. Quando Deus criou o mundo, deu a Adão uma ordem muita clara. Ele deveria cuidar e dominar o restante da criação "Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra". Adão cumpriu a ordem enquanto estava no jardim. No capítulo 2, versículos 19 e 20, vemos o trabalho de Adão ao dar nome a cada animal. Isso não foi um trabalho fácil. Adão passou um bom tempo observando as características de cada animal para escolher o nome que lhe caberia. Na língua hebraica isso está refletido no nome dos animais.[r2]  A ordem de Deus a Adão incluiu a preservação, mas não se limitou a isso. Podemos agir como cocriadores ao lado de Deus à medida que usamos ciência e recursos tecnológicos para honrar seu nome, reconhecendo que a inteligência e os recursos disponíveis para a pesquisa vêm dele.
Devemos prestar atenção nesse ponto para não cometer dois desvios básicos da doutrina bíblica. O primeiro é a deificação da ecologia. Preservar é palavra de ordem para o cristão sim, mas daí a demonizar o desenvolvimento e tratar a ecologia como a rainha de todas as verdades não constitui doutrina bíblica coerente. Devemos ter bom senso para que não sejamos levados por uma enxurrada de argumentos e ataques a projetos que são necessários à humanidade.[r3]  O fato de dominarmos a criação também significa usá-la para o nosso bem, e aí está o problema. Quantos usam recursos naturais para construir a própria casa, as estradas por onde trafegamos e muito mais? O abuso é que constitui erro. Devastar áreas de preservação ambiental, não usar sabiamente a água e a energia que temos em casa, dentre outras coisas, são ações prejudiciais a todos, sim.
O segundo problema é a divinização da tecnologia. O fascínio de dominar e transformar facilmente recursos naturais em dinheiro, e ainda por cima de maneira tão ágil e fácil como a tecnologia propiciou, pode ser um problema inclusive para os cristãos. Devemos ser donos da tecnologia e não deixar que ela mande em nós sem refletirmos o porquê de usar ou não determinados recursos que estão à nossa disposição.
Nesse ponto, devemos buscar o equilíbrio: preservar e ao mesmo tempo desfrutar dos recursos naturais e da tecnologia, sem que nos deixemos dominar pelas ideias envolvidas em cada parte do processo.

2. A criação de Deus também é objeto de seu amor e agente de comunicação de quem Ele é. Apesar de não ser suficiente para a salvação, a natureza criada por Deus revela sua existência e aspectos do seu caráter. Alguns textos bíblicos deixam essa verdade em evidência, por exemplo, o salmo 8. O salmista afirma que percebe sua pequenez e a grandeza de Deus ao contemplar a imensidão da criação do Senhor que tudo fez. Deus ama tudo o que criou e não apenas algumas partes. Apesar de ter colocado o homem como coroa de sua obra, como dominador a administrador de tudo, ama o restante da criação e restaurará tudo o que criou no final do mundo.
Paulo alerta em Romanos (1.20) que a criação é recurso teológico suficiente para a condenação do homem por causa de seu pecado, porque a existência de Deus, e certamente seu atributo de perfeição e santidade, podem ser conhecidos pelo homem ao observar o mundo criado por Deus.
Além de amar, Deus usa a criação para o cumprimento de seus propósitos específicos. Alguns exemplos podem ser lembrados rapidamente para nos ajudar na assimilação dessa verdade: o dilúvio (Gn 6); a mula de Balaão (Nm 22), o grande peixe (Jn 2), apenas para citar alguns.

3. A criação também está inclusa no projeto de redenção do Senhor. Você deve lembrar-se que o pecado de Adão trouxe maldição sobre a terra, que, embora não tenha responsabilidade por decisão própria, recebeu como consequência a culpa imputada pelo pecado do primeiro homem. É interessante notar a expressão usada por Paulo em Romanos 8.22. O apóstolo afirma que a criação geme e suporta angústias (a Nova tradução na Linguagem de hoje traz a expressão “sente dores de parto”), mostrando que a criação também denuncia o pecado e as consequências da rebelião do homem contra Deus.

A Bíblia nos chama a uma posição ativa e equilibrada com respeito à criação. Vamos cuidar da criação e ao mesmo tempo desenvolver o mundo à nossa volta. Vamos preservar a criação para glorificar ao Criador e não para divinizá-la. Vamos contribuir e fazer a nossa parte como cristãos e também como cidadãos.

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